domingo, 18 de setembro de 2016

Capítulo 18


Enya se sentiu um pouco melhor nesta manhã. Já faziam quatro dias que Diego tinha partido com Raziel e não tinha notícias nenhuma. Continuava alimentando de energia o boneco e se sentia feliz, pois de alguma forma estava ajudando. Quanto mais poderoso o boneco ficasse mais Diego ficaria.
            Colocou seu vestido amarelo de voal e arrumou bem os cabelos, deixando-os soltos e enfeitados com pequenas flores. No espelho gostou do que viu, tinha prometido ajudar Fanny, pois a irmã agora queria ficar cuidando dela, mas precisava fazer tudo sozinha agora, sabia que ela também tinha tido um caso com Diego e não poderia de forma alguma a deixar desconfiar.
            Calçou as sandálias brancas e foi ajudar Fanny na escola, pois gostava de ajudar as crianças pequenas com o aprendizado de magia e precisava disfarçar afinal quanto mais convincente fosse, melhor. Logo que chegou na pequena escolinha se deparou com a irmã.
            -Monopolizou tudo agora? Fanny sorri.
            Eny entendia o que estava acontecendo. Afinal estar com Diego era quase um vício, ele sabia o que fazia e poderia enlouquecer qualquer mulher. Não culpava Fanny nem Diego, mas a situação era engraçada.
            -Sim. Quero que ele seja meu por um tempo. Gosto do que ele faz.
            Fanny sorri, pois, algumas memórias vem a sua cabeça.
            -Mas isso não é justo Eny.
            -Desculpa Fanny mas ficarei com ele por enquanto.
            Enya lhe dá as costas indo de encontro a um grupo de crianças de cinco e quatro anos de idade que ao verem a princesa correm em sua direção. Enya se abaixa e quase é derrubada por elas.
            -Princesa, princesa olhe o que eu aprendi a fazer. Fala uma das meninas.
            Enya senta e a menina fica em pé ao lado dela e estica as mãos então uma energia começa a surgir em suas mãos e se transforma em uma pequena flor. A princesa bate palmas.
            -Que lindo Clara. Você aprendeu bem o que ensinei.
            -Princesa faz de novo, como da outra vez.
            -Está bem. Enya se levanta e estica seus braços e começa a surgir uma energia verde em suas mãos. Ela começa a manipular e transforma em uma bola de energia, então quando segura a energia nas mãos ela aperta e joga para cima. A bola estoura e surgem lindas borboletas de todas as cores.
            As crianças gritam e riem do que aconteceu e tentam pegar as borboletas. Fanny chega perto de Eny no exato momento em que esta abaixa os braços e mal tem tempo de segurá-la pois Eny desmaia.


            -Eny acorde.
            Uma voz muito doce a tira do transe e ela sente um cheiro muito estranho. Abre os olhos e Fanny está na sua frente.
            -O que houve pequena?
            Enya se senta e coloca as mãos na cabeça.
            -Não sei, me senti tonta e quando percebi já estava aqui.
            -Desmaiou na verdade. Ainda bem que estava com você. Acredito que as pobres crianças não poderiam ter ajudado. Fanny sorri. Estava particularmente linda neste dia. Seus longos cabelos ruivos estavam soltos e cacheados, arrumados com flores brancas bem pequenas. Usava um lindo vestido de seda azul claro.
            -Nunca passei por isso. Enya tenta levantar mas fica tonta novamente e senta.
            -Acho que Diego ficará muito feliz Eny.
            -Diego? Por quê?
            Fanny a olha com ressentimento.
            -Eny o primeiro filho de qualquer homem ou mulher é uma verdadeira benção da deusa.
            -Filho? Só então ela entende o que ela quis dizer. –Não estou grávida, não posso estar.
            -Eny por favor. Trancada com Diego dia e noite só podia dar nisso. Essa criança será a alegria do nosso reino.
            -Não estou grávida.
            -Para com isso Enya. Fanny estava incomodada. –Conseguiu o que queria. Vai dar a Diego o primeiro filho dele. Ela sai e bate a porta da sala.
            -Acho que alguém está com um pouco de ciúme. Francis uma das bruxas que lecionava ali sorri. – Procure a rainha Leona, ela te dará certeza sobre isso. Mas creio que teremos uma criança em pouco tempo.
           

            Enya volta para o castelo preocupada. Foi até um lago para olhar novamente seu semblante. Quanto tempo tinha passado desde que esteve com Diego. Muito tempo. Mas com Kaibuk não tinha um mês ou seriam dois. Não poderia estar grávida e muito menos de um homem do gelo. Sua irmã ia matá-la. Ou não. Se estivesse mesmo grávida de Kaibuk poderia ser a solução de tudo. Iria ficar com ele. No reino dele. Iria abdicar de seus poderes, ficar sem magia para fazer a travessia.
            A princesa estava feliz, realmente feliz com tudo.



            O quarto do rei do gelo agora era uma verdadeira antítese. Diego ria da situação. Ele deixou o rei sem roupa alguma coberto apenas com um fino lençol. Ele trajava apenas seu calção longo de algodão. Raziel tinha cumprido o que falou e alterou a temperatura do quarto deixando este muito quente.
            Diego era habilidoso e estava retirando a magia negra do rei. O veneno evaporava da pele do rei com a temperatura e com os cânticos e feitiços que este colocava ajudando o rei a não sentir dor.
            Raziel e Kaibuk apareciam algumas vezes, mas não conseguiam ficar no quarto. O cheiro era terrível pois o veneno era fétido ao extremo e o calor fazia com que eles ficassem tontos no ressinto. Mas isso não afetava Diego que estava contente e cantava quase o tempo todo.
            Já era o sexto dia que estava ali e o rei agora mostrava claros sinais de melhora. A ferida já tinha cicatrizado e não restava quase veneno. A magia negra é que fazia a cura ser mais demorada.
            O quarto sempre ficava trancado pois não queriam que fosse chamada a atenção para o fato de ter um bruxo no castelo. A porta, entretanto, neste dia quase que por mágica se abre. Diego observa do canto do quarto a estranha figura que entra e se aproxima do rei. Esta olha e coloca as mãos no rei, mas a sua temperatura alta faz com que retire as mãos. Então ela pega do meio das vestes um pequeno frasco e olha. Neste momento Diego tranca a porta com sua mente e se levanta. A estranha figura deixa cair o frasco e se vira dando de cara com ele.
            -Quem é você? Diego fica a meio metro da figura que trajava pesadas roupas e usava um capuz que cobria o rosto.
            Não respondendo à pergunta ele se aproxima e coloca o capuz para trás ficando surpreso.
            -Quem é você menina?
            -Sou Ana, noiva do príncipe Kaibuk.
            Ele a olha com interesse. Seu rosto era muito bonito. Seus olhos claros e grandes chamavam a atenção. Tinha lindos cabelos também muito claros. Mas não dava para ver nada do corpo dela o que interessou a Diego.
            -E quem é você?
            -Me chamo Diego.
            Ana olha bem pra ele e fica constrangida. Diego não usava camisa e seu corpo era muito bonito, ela repara nos músculos do seu abdômen e no torneamento dos seus braços. Jamais tinha visto um homem sem a camisa. Nunca imaginou que pudessem ser tão bonitos. Mas o que mais chamou a atenção foi a pele morena dele. Uma cor que não conhecia e que achou linda. O cabelo solto e os olhos sedutores. Ana baixa os olhos.
            -E o que faz aqui Diego?
            -Estou aqui a pedido do príncipe para salvar seu pai.
            -Entendo. Mas nunca vi você ou alguém como você em nosso reino. Ela olha novamente para ele e baixa os olhos.
            Diego sorri e gosta da situação.
            -Sou um bruxo do reino ao lado na verdade. Vim aqui como disse para salvar o rei.
            -Isso é muito bom. Responde Ana ainda com os olhos cabisbaixos.
            -E você o que quer aqui noiva de Kaibuk e como entrou?
            -Vim ver meu sogro na verdade, pois quero que melhore e entrei aqui pela porta que estava aberta.
            Diego olha seriamente para ela e ri, pois, sabe que a porta estava trancada.
            -Certo devo ter esquecido de trancar.
            -Está meio quente aqui não é?
            -Impressão sua; noiva de Kaibuk. Está normal como deve ser.
            Ana tira suas luvas e passa as mãos na testa que transpirava.
            -Bom deve ter sido a surpresa de encontrar alguém estranho aqui.
            -Certo. Diego agora começa a concentrar sua energia e torna o ambiente ainda mais quente.
            -E como está o rei. Ana vai até a cama dele e olha para seu soberano.
            -Melhor com certeza. Tenho feito um ótimo trabalho.
            -Nossa, mas está realmente quente aqui.
            -Por que não tira essa pele mais grossa. Vai se sentir melhor deixe que eu ajudo.
            Ana nem teve tempo de falar nada. Diego já estava atrás dela e com um movimento rápido solta a cordinha que amarra a capa mais grossa que Ana usava por cima do vestido. Era um grosso pelo de urso negro. Diego então após soltar a pele retira de Ana de forma que passa suas mãos pelos braços dela fazendo a menina soltar um suspiro.
            Sem a terrível pele Ana se sente melhor pois o ambiente estava realmente muito quente. Contudo Diego continua aumentando a temperatura do local com sua energia sem Ana perceber.
            Diego se aproxima do rei e começa a esfregar um unguento na pele do rei. Ana fica observando o movimento das mãos dele.
            -Como fez para curá-lo da magia negra?
            -Não lembro de ter mencionado magia negra.
            -Foi...Kaibuk que me contou.
            -Hum.... Certo ele deve ter mesmo contado a sua noiva. Diego ri.
            -Do que está rindo?
            -Nada não. Noiva de Kaibuk. Só achei engraçado o jeito que os deuses trabalham.
            -Não temos deuses. Só um deus na verdade.
            -Sim conheço suas crenças e você conhece as minhas.  Quer ver como curo seu rei.
            -Sim.
            -Então venha mais perto que te ensino.
            Ana vai até a cama do rei e Diego se coloca atrás dela. Manda que ela coloque suas mãos no corpo do rei e então coloca as próprias mãos nas de Ana e começa a massagear o rei e um cântico sai de sua boca. Ana sente um calor estranho mas gosta.
            As mãos dos dois deslizam sobre o corpo do rei e Ana fecha os olhos pois gosta do que está sentindo.
            Diego então num movimento rápido vira Ana de frente para ele. A menina nem teve tempo de revidar suas mãos acabam tocando o abdômen dele. Ana fica rubra, mas não retira as mãos. Diego então conduz as mãos da menina até seu pescoço. Ana fecha os olhos. O bruxo aproxima os lábios dos dela e toca suavemente. Ele sente Ana tremer e gosta disso.
            Firmando seus lábios nos dela, percebe que Ana jamais tinha beijado alguém. Então delicadamente faz com ela abra a boca e então explora as delicias de um primeiro beijo. Ana fica mole em seus braços.
            Diego rapidamente a segura em seus braços e a coloca sentada na mesa ao lado. Ana quase não respira. Diego beija com desespero sua boa. Suas mãos muito hábeis são um reflexo de seus lábios explorando o corpo inocente dela. Ana arfava, mas não conseguia resistir. Diego agora beija seu pescoço e começa a descer até seus seios então a menina o afasta em um empurrão.
            -Não. Por favor. Sou noiva.
            Diego então passa a mão nos cabelos e arruma seu calção.
            -Então tudo bem. Ele se afasta dela e volta a olhar o rei.
            -Tudo bem? Ana o olha com revolta.
            -Sim, claro. Não farei nada que não quer. Se não me quer pode sair.
            -Mas não vai insistir?
            Diego ri.
            -Nunca insisto. Só pego o que me é oferecido. Se não quer pode sair.
            Ana jamais tinha sido ofendida dessa maneira. Ela junta suas roupas e vai em direção a porta totalmente furiosa.
            -Espere. Pede Diego.
            Ana para e olha com esperança.
            -Não esqueça de levar isso noiva de Kaibuk.

            Ele joga para ela o frasquinho que deixou cair quando chegou. Ana o olha com raiva e sai bufando ao bater à porta.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Capítulo 17


-Eu posso sentir que tudo está mudando. Tudo agora está diferente. O coração que detém todo o poder e o sangue. Apenas falta o sangue. Depois disso poderei finalmente me vingar realmente de todo esse maldito mundo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Capítulo 16


                   

                  A rainha Leona não conseguia controlar Enya que chorava desesperadamente. Suas irmãs já tinham arrumado tudo que foi quebrado no quarto. Ficaram apenas Lilith, Leona e Enya.
            Enya estava deitada na cama chorando e Leona não conseguia entender o porquê, principalmente agora que já sabia do perigo que era sair das fronteiras do reino.
            Lilith ficou em absoluto silêncio sentada no canto da cama. Leona passava as mãos carinhosamente na cabeça de Eny.
            -Sinto muito querida. Mas foi necessário.
            Enya chorou ainda mais. Lilith já começava a ficar chateada com a situação, afinal qual era o problema? Se tinha descoberto que iria morrer no outro reino porque não se alegrava em saber que sempre foi protegida.
            -Enya por favor qual o problema? Lilith estava nervosa.
            Ela não fala nada apenas olha a sobrinha e chora.
            -Irmã. Por favor me deixe sozinha. Era quase uma súplica da menina.
            Leona a olha com carinho, mas não deixa de perceber que sua temperatura estava menor quando passa as mãos no cabelo da irmã.
            Agora sozinha Eny só tinha uma coisa em mente. Terminar o boneco de Diego. Foi tudo por questões de segundos. Diego chegou no quarto dela momentos antes de Lilith e com um sinal de Eny ficou escondido, apenas observando. Em um pequeno momento o único que conseguiu pediu em tom de súplica que o amigo acompanhasse Raziel dizendo que ia construir o boneco para protegê-lo. Diego consente com a cabeça e ela fica mais tranquila. Conhece os poderes dele e sabe que o amigo tem alto grau no conhecimento de feitiços de cura. Se alguém além dela poderia fazer isso era seu melhor amigo.
            Entoando um cântico profundo Enya começa a construção. Suas mãos são hábeis e a magia começa a crescer. Uma energia verde surge em suas mãos e ela foi moldando um boneco com ela. Precisava ser preciso ou do contrário poderia fazer mal ou invés de bem. Falando baixinho a pequena bruxa chama por sua deusa e começa a criar.

"Abençoados sejam teus pés, que te conduzem pelo Caminho". 
"Abençoados sejam teus joelhos, que se dobram diante do altar".
"Abençoados sejam teus lábios, que referem os Nomes Sagrados". 

 Enya então abraça o molde do boneco e ajoelha-se diante dele, beijando-o nos pés, joelhos, peito e lábios, dizendo: 

"Abençoados sejam teus pés, que te conduzem pelo Caminho.
Abençoados sejam teus joelhos, que se dobram diante do altar. 
Abençoado seja teu falo, que a tudo fertiliza. 
Abençoado seja teu peito, formado em força. 
Abençoados sejam teus lábios, que proferem os Nomes Sagrados"

            Com exatos trinta minutos estava pronto e agora ela chegou perto dele e soprou em suas narinas e a vida começou a surgir nele. O boneco agora estava perfeito. Ele sorri para ela. Enya pede para que ele se sente em uma cadeira na sacada. Só havia um problema, ela sabia o quanto Diego era requisitado por algumas mulheres do reino e precisa arrumar uma desculpa para o sumiço dele, ou seja, para ele ficar tanto no quarto dela. Pensou na desculpa mais simples. Colocou uma linda camisola de seda branca, soltou os cabelos e caso alguém perguntasse diria que estava curando sua dor com ele.
            Enya sorri e vai até a sacada.


            Raziel nunca em toda sua vida teria imaginado tal situação. Ele caminhando lado a lado com um bruxo que iria tentar salvar a vida do pai. Diego era diferente do povo do gelo, diferente demais, primeiro sua pele não era branca, tinha o tom daqueles que podem viver exclusivamente do sol. Seu cabelo solto era bonito pois ele não usava preso. As roupas dele também demonstravam que jamais sentia frio. Diego tinha algo estranho na visão de Raziel pois este sempre estava sorrindo.
            -Ouvi que vocês não podiam deixar o reino, pois poderiam morrer.
            -Alguns bruxos sim, outros nem tanto. Diego sorri.
            Raziel não podia deixar de admirar a beleza do novo companheiro.
            -Você não é poderoso então.
            -Eu não diria isso. Tenho grandes poderes, não se comparam a Enya ou as suas irmãs, mas tenho poder. Para sair Enya fez um boneco meu.
            -Boneco?
            -Sim, Enya consegue manipular a energia a tal ponto que cria formas novas. Ela criou um boneco meu e fica alimentando ele com a energia dela. A energia do boneco vem para mim e por isso fico forte do seu lado e não tem como os guardiões detectarem minha saída.
            Raziel fica espantando. Até que ponto ia o poder de Enya? Quando esteve com ela sentiu algo realmente poderoso, mas nunca imaginou que pudesse ser tanto.
            -Então não existe o perigo de você morrer em nosso reino?
            -Preocupado comigo príncipe? Diego ri. –Jamais imaginaria isso.
            -Não me preocupo com você e sim com Enya que iria sofrer se você morresse. Dá para perceber o quanto ela se preocupa, só isso.
            -Claro que sei.
            Raziel não compreende.
            -Você vai contar ao seu irmão?
            -Sobre o quê?
            -Sobre Enya não poder ficar com ele.
            -Não tinha pensado nisso ainda. Como poderei contar que a mulher que ele ama jamais poderá viver aqui com ele.
            -Olha não sei o que será feito depois disso, mas conhecendo Eny do jeito que conheço ela não vai aceitar isso. Nem que seja designação do universo.
            -E o que poderia fazer?
            -Enya pode não parecer, mas é a bruxa mais poderosa que conheço. Algumas vezes acho que é mais forte que a própria rainha. Diego agora se perguntava porque estava contando isso. Tinha acabado de conhecer Raziel e não confiava nele.
            Raziel se manteve em silêncio pois não estava confortável com tudo isso.
            -Posso te fazer uma pergunta príncipe?
            -Primeiro. Sou Raziel e me chame assim. Segundo pergunte o que quiser ainda temos um caminho longo então que conversemos para ser mais prazeroso.
            -Como pode ter poderes mágicos se pertence ao povo do gelo?
            -Nossa você foi direto.
            -Não deveria ser?
            -Sim, bom não saberia responder. Esses poderes são uma surpresa para mim. Não tenho ideia de como surgiram mas surgiram. Estou tentando aperfeiçoar, mas tudo é novidade.
            -Tentando aperfeiçoar? Nossa acho que teremos problemas mais adiante. Diego ri novamente.
            -Por que está rindo?
            -Por nada princ.... Raziel. Na verdade, apenas estou pensando como pode ter poderes se teu pai e tua mãe são daqui.
            -Na verdade apenas posso falar do meu pai pois este conheço bem, mas minha mãe morreu quando eu nasci.
            Diego o olha com surpresa. A mãe morreu assim como a mãe de Enya seria muita coincidência mas achou melhor nem comentar.
            -Mas seu pai não fala dela?
            -Quase nada. Somos proibidos de mencionar até o nome dela. Muitos dizem que meu pai amou tanto ela que a simples menção de seu nome o fazia sofrer.
            -Mas e as outras pessoas? Ninguém falava dela? Afinal foi a rainha?
            -Foram proibidos e respeitavam a decisão do rei. Com o tempo parei de pedir também, não queria que meu pai se entristecesse.
            -Isso é realmente interessante. Uma rainha misteriosa.
            -Sim e como não tinha os avós maternos nunca mais soubemos de nada. Mas acredito que existe algo misterioso em tudo isso.
            Diego continua pensando. Uma rainha do gelo que poderia muito bem ser uma bruxa, mas seria uma bruxa fraca pois ficou muito tempo no reino do gelo. Mas isso não explica nada, pois Kaibuk não tem poderes e sim Raziel.
            -Diego preciso que coloque essa capa. Raziel tira a capa que estava usando e entrega para ele.
            -Por que tenho que usar isso? Diego a segura e não gosta pois é feita de pelo de lobo.
            -Você parece um bruxo.
            -Eu sou um bruxo.
            -Eu sei e é por isso que não pode chamar atenção. Raziel arruma a capa e praticamente esconde Diego. –É um tempo conturbado esse nosso por isso creio que seja melhor não chamar a atenção.
            -Está bem Raziel.
            Os dois já estavam diante da enorme muralha que rodeava o castelo. Diego jamais tinha visto algo assim pois o castelo de sua rainha não tinha muros. Os gigantes portões se abrem e eles entram.



            Kaibuk desce correndo e abraça fortemente a figura que surge com Raziel.
            -Olha príncipe nem faz tanto tempo assim que nos afastamos.
            Ao ouvir a voz de homem Kaibuk se afasta e percebe que fez um papel bem tolo.
            -Achei que era Enya.
            -Ela não pode sair a rainha nos encontrou. Mas eu estou aqui para ajudar em seu nome. Ele faz uma reverência ao príncipe.
            Kaibuk olha para Raziel que consente com a cabeça.
            -Então não vamos perder mais tempo, venha ver nosso pai.
            Eles sobem as escadas e chegam no quarto onde está o rei. Um curandeiro estava com ele. Kaibuk pede que ele se retire.
            Ficam apenas os três no quarto e Kaibuk tranca a porta para não serem incomodados. Diego retira a capa e os irmãos percebem que ele transpirava.
            Ele então pega sua bolsa e coloca perto da cama e se aproxima do rei. Observa bem, abre os olhos dele, mexe nos braços e olha bem de perto o machucado que agora era um ferimento muito feio que cheirava mal.
            Diego então empunha suas mãos e começa a entoar um cântico e lançar sua energia no rei.
"Saúdo todas as minhas ancestrais e os meus ancestrais!
Minhas avós, avôs, tias, tios, irmãs e irmãos que vieram antes de mim.
Saúdo as mulheres que me geraram e nutriram.
Mulheres que choraram, lutaram, amaram, pariram, curaram...
Mulheres sagradas, sábias, curandeiras, parteiras, avós, mães, companheiras...
Sou grato pela vida que habita em meu Ser. E grato pela força que pulsa em mim
 Essa força que nos conecta e cura a todos nós.
Eu peço que haja Luz em nossos caminhos,
Que haja Amor em nossos espíritos.
E paz entre nós.
Que a Mãe Divina, nossa amada deusa, nos envolva em seu abraço de Amor e abençoe todos os meus passos.
Assim seja, assim é! ”

Enquanto isso os irmãos apenas observavam.
            Após algum tempo de espera os irmãos olham curiosos para o bruxo.  Diego abre os olhos e fica extremamente surpreso com o que sente.
            -Tenho uma péssima notícia para vocês.
            Kaibuk se apoia em Raziel não queria ouvir isso.
            -Seu pai foi vítima de magia negra poderosa e está morrendo.
            -Magia negra, mas achei que isso não existia mais. Comenta Raziel.
            -Eu também achei que isso não existia mais. Afirma Diego. – Mas ao que parece existe e isso é muito ruim. - Contudo tenho uma notícia boa.
            -Qual?
            -Eu posso e vou curar seu pai. Ele sorri e vai até sua bolsa retira suas poções e ervas e as arruma no chão. –Mas vou precisar que este lugar fique muito, mas muito quente.
            -Eu posso arrumar isso. Raziel sai do quarto para poder aumentar a temperatura do quarto.
            Kaibuk fica sozinho com Diego.
            -Como ela está?
            Diego o olha com tristeza.
            -Príncipe acho melhor agora cuidarmos do seu pai. Enya está bem no reino dela. Está segura.
            Kaibuk o olha com curiosidade.
            -Preciso ficar sozinho com o rei, vou retirar essa magia ruim dele no momento e não vai ser nada bom para você ficar aqui.

            Kaibuk consente com a cabeça e se retira. Agora sim tem confiança de que o pai vai viver. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Capítulo 15



-Príncipe Kaibuk tem uma visita. Um dos empregados do castelo entra apressado no quarto do rei. Kaibuk quase não saia de lá. Cuidava o tempo todo que podia do pai.
            -Quem é?
            -É Otony alteza.
            Kaibuk balança a cabeça, já estava cansado dessas visitas, Otony ficava o tempo no castelo e isso o estava irritando, queria ver o rei, mas Kaibuk tinha negado todas as visitas. Ninguém além de um curandeiro e ele poderiam ver o rei.
            -Diga para ele que vou atendê-lo na sala do rei.
            Kaibuk olha o pai que ainda estava inerte a tudo e sai.
            A sala do trono sem a presença do rei era algo que machucava Kaibuk. Em outros tempos toda vez que entrou ali seu pai ficava sentado no trono que agora ele ocupava. Otony entra com toda a pompa. Trajava uma linda pele de urso com botas de couro branco.
            -Majestade. Ele se curva diante de Kaibuk.
            -Alteza. Por favor. Meu pai ainda vive.
            -Sim. Alteza. Desculpe.
            -Está tudo bem. O que deseja Otony? Por que saiu do conforto de sua casa?
            -Meu príncipe desejo lhe falar. Sei que nossa última conversa foi um tanto ruim, mas preciso entender o que lhe faz desdenhar minha irmã.
            -Desdenhar é uma palavra muito forte. Não posso me casar com quem não amo. Não amo Ana, amo outra pessoa.
            Otony olha seriamente para Kaibuk.
            -Outra pessoa?
            -Sim. Posso apenas lhe dizer que não amo nenhuma mulher desse reino.
            -Meu príncipe, mas o que fará?
            -Vou esperar meu pai melhorar e então vou fazê-lo entender.
            -Entender?
            -Sim. Entender meu amor proibido, pois quem eu amo é alguém que vai contra nossos maiores preceitos.
            -Amor proibido? Posso saber quem é?
            Kaibuk se levanta e vai até Otony ficando frente a frente.
            -Não posso dizer ainda. Mas você irá saber no tempo certo meu amigo.
            Otony o olha com interesse e sorri.
            -Ana terá que entender sua decisão. E abraça fortemente o príncipe.



            Raziel não esperou nem cinco minutos. Enya já trajava seu lindo vestido roxo de voal. Seus cabelos estavam soltos adornados com uma tiara de flores. Carregava uma pequena bolsa. Raziel olhou com admiração para ela.
            -Não demorou nada.
            -Estou nervosa na verdade, só coloquei o que vi na frente. Ela sorri. E era linda. Raziel não podia deixar de notar isso.
            -Podemos ir então?
            -Sim. Podemos.
         Os dois se dirigiram até a sacada pois não poderiam sair pela porta da frente. Quando chegam na sacada Raziel diz para pularem e pega na mão de Enya para ajudá-la a pular, mas algo acontece. No momento que as mãos se unem uma energia começa a sair de Raziel. Enya sente e sua energia começa a transparecer também. A de Raziel era em um tom roxo escuro e a de Enya azul claro. As energias começaram a se misturar os dois se olhavam, mas não soltaram as mãos.
            -O que significa isso? Enya olha fixamente para Raziel sem soltar a mão dele. A energia entre eles tinha vida própria.
          -Eu não sei. Raziel realmente não compreendia mas gostava do que estava sentindo.
            -O que vocês estão fazendo? Fala uma voz acima deles.
            Os dois olham para cima e soltam as mãos no mesmo instante e a energia some.
            -Você de novo? Raziel prepara suas adagas.
            -Lilith? Enya estava confusa.
            Lilith salta e fica frente a frente com eles.
            -Onde pensa que vai tia?
          -Lilith isso não é assunto seu. Enya começou a ficar nervosa. A presença da sobrinha só significava uma coisa. A rainha tinha sido avisada.
            -TIA? Raziel as olha com interesse.
            -Ela é minha sobrinha. Filha mais velha da rainha Leona.
            -Uma princesa. Raziel ri da situação.
            -Não sou uma princesa. Ela é.  Lilith aponta para Enya. –Desisti desse título quando me tornei guardiã do reino.
            Enya olha para Raziel nervosa. Sabia que agora tinham menos tempo ainda.
            -Raziel precisamos ir.
            -Já disse que você não sai daqui.
            A expressão de Lilith era terrível. Raziel coloca Enya atrás dele.
            -Já que quer assim. Não tenho escolha. Ele levanta suas mãos e usa seu poder contra ela.
            Contudo Lilith dessa vez estava preparada. Cruzou os braços na frente do rosto e se defendeu da energia. Lançando a sua logo em seguida. Raziel e Enya são acertados e são jogados contra as muretas da sacada. Eles se levantam.
            -Lilith para com isso. É importante o que vou fazer. Por favor. Implora Enya.
            Mas Lilith não escuta a tia. Avança contra Raziel com chutes e socos que ele apenas defende. Mas Lilith é forte e treinou muito e usando a energia combinada com os golpes ela começa a acertar Raziel. Socou seu rosto e chutou suas costelas fazendo o garoto gritar. Na raiva do momento ele lembra do pai e o porquê de estar ali. Então usa a luta corporal contra Lilith fazendo o mesmo que ela. Com o auxilio da energia ele consegue bater mais forte e acaba acertando um chute na barriga dela e a joga dentro do quarto de Enya.
            Ao ver a sobrinha caída Enya tenta ir ao seu encontro, mas Raziel faz sinal para que os dois saltem da sacada e possam ir ao encontro de Kaibuk.
            Enya sabe que Lilith ficará bem e vai em direção a sacada. Quando os dois tentam pular percebem que estão colados no chão. O concreto ficou amolecido e endureceu com os pés deles dentro. Eles olham para trás e veem Lilith entoando um cântico e movendo as mãos lentamente.
            -É um feitiço. Não podemos sair daqui. Enya tenta mexer suas pernas, mas agora estão praticamente pregadas no chão.
            Raziel não acreditava naquilo. Feitiços! Além de tudo elas podiam fazer feitiços. Já não bastava a energia e o poder. Ainda manipulavam os elementos. Ele agora tinha dentro de si um misto curiosidade e fascínio.
            Lilith se levanta e continua com seu cântico bem baixinho. Enya começa a recitar lentamente um feitiço. Raziel começa a sentir que seus pés estão saindo da prisão colocada pela moça. Quando percebe que o feitiço de Enya funcionou ele solta seus pés e avança novamente contra Lilith.
            Os dois começam novamente a lutar e praticamente quebram todo o quarto de Enya que apenas observa da sacada, pois não sabe o que fazer. Não iria jamais atacar a sobrinha e não machucaria Raziel.
            Lilith usava agora sua energia novamente para bater em Raziel. Depois de chutá-lo novamente ele cai no chão. Raziel aproveita e passa uma rasteira em Lilith derrubando ela e se coloca em cima do corpo dela segurando suas mãos. Lilith com força vira ele e fica por cima.
            Nesse momento a porta se abre e Lilith sai de cima de Raziel. Ele olha em direção a porta e fica petrificado com a visão. Diante dele uma mulher como jamais tinha visto antes. E não era apenas pela beleza, mas por tudo que ela representava. Sem nem mesmo perguntar sabia que se tratava da rainha.
            Ela entra no quarto juntamente com outras meninas muito bonitas. Raziel estava deitado e Lilith com a cabeça baixa. Uma das garotas vai até Lili e começa a curá-la. A outra vai até Raziel e faz o mesmo.
            Em menos de cinco minutos ele já se sentia bem. Na sacada a rainha estava com Enya e ela chorava desesperadamente.
            Raziel se levanta e vai até elas a tempo de ouvir o final da conversa.
            -E não sairá daqui.
            Enya chorava e olhava para ele buscando alguma solução. A rainha se vira então para ele. Raziel mal conseguia olhar pra ela. Era quase o que sentia pelo pai quando esse colocava a armadura. Leona tinha uma aura tão poderosa que era impossível não senti-la.
            -Menino acho melhor voltar para seu reino.
         Até a voz dela era sedutora. Mas Raziel não iria se deixar seduzir. Com toda coragem que tinha ele enfrenta a poderosa rainha.
            -Não vou deixar esse castelo sem Enya. Preciso dela. Meu pai o rei foi atacado por uma besta selvagem e está morrendo. Apenas magia poderia ajudá-lo.
            -Como chegou a essa conclusão sobre a magia?
            Raziel explica o que aconteceu e como pensaram no povo bruxo, apenas esconde o envolvimento de Enya.
            -E porque acha que Enya ajudaria?
           -Entrei aqui no reino de vocês e como cheguei por aquele lado. Ele aponta a direção de que veio. –Quando vi aquela pedra ali fora pensei em entrar aqui e pedir ajuda para a primeira bruxa que encontrasse.
            -E porque não pediu ajuda de Lilith?
            Ele olha para Lilith que nesse momento estava totalmente restabelecida apenas com a roupa estragada devido à luta.
            -Como eu iria pedir algo pra ela. Quando me viu quis me matar. Nem pude explicar nada.
            Leona olha para Lilith que afirma com a cabeça. A mãe sorri levemente.
            -Ela apenas fez seu trabalho. É uma guardiã do reino.
            Raziel consente com a cabeça.
            -Eu sinto dizer jovem rapaz, mas não poderei deixar que Enya saia daqui.
            -Mas senhora meu pai vai morrer.
            -Menino quero que preste muita atenção. Não podemos interferir, sei da sua dor, mas se tirar Enya daqui quem vai morrer é ela.
            Enya e Raziel se olham sem compreender. Leona percebendo a confusão começa a explicar.
            -Somos bruxos e vivemos com nossa energia ao limite. Dentro de nosso reino estamos protegidos pois nossa energia ajuda uns aos outros, contudo quando saímos do nosso reino quanto maior é o poder do bruxo mais fraco ele se torna ao sair. A temperatura do corpo caí e o bruxo vai entrando em profundo sono até não ter energia nenhuma e morre em total inanição.
            Enya a olha com terror. Tinha todos os sintomas de alguém que estava morrendo. Então era por isso que sua irmã não a deixava sair do reino. Agora ela entendia tudo, mas de sua saída dependia a vida do pai de Kaibuk e sua felicidade.
            Raziel fica totalmente estático. Nunca imaginou algo assim. Não poderia sacrificar a vida de Enya dessa forma. Kaibuk jamais o perdoaria.
            -Por favor rainha designe outro bruxo para vir comigo.
            -Sinto muito rapaz não vamos interferir no equilíbrio.
            -Mas rainha...
            -Nada de, mas. Se retire daqui imediatamente. A próxima vez que alguém de seu povo se aproximar de nós ou de Enya iremos destruir imediatamente.
            Raziel não podia dizer mais nada. Sentiu a ameaça da rainha na energia dela. Não seria tolo o suficiente para arriscar sequestrar Enya e expô-la a morte.
          -Então me retiro. Sinto muito pelo ocorrido. Ele faz uma reverência e sai pela sacada.
            Enya olha com tristeza a saída dele. As lágrimas surgem em seus olhos.



            Raziel imaginava muitas coisas enquanto fazia o caminho de volta. Tudo estava perdido sem uma bruxa. E agora como ia contar para Kaibuk sobre o que ficou sabendo sobre Enya. Seriam dois golpes duros demais para o irmão. A morte eminente do pai e jamais ficar com Enya pois esta não podia viver em seu mundo.
            Ele caminhava e não percebeu que no caminho uma figura o aguardava. Na saída do reino antes de chegar na ponte feita por Enya um homem estava parado. Trajava uma camisa de linho azul e calções de algodão branco, usava sandálias brancas também. Raziel já tinha o visto antes e não acreditou.
            -O que faz aqui? Raziel estava visualmente confuso.
            -Isso é jeito de abordar uma pessoa? Estou do meu lado do reino príncipe.
            -Então lembra de mim?
            -Como esquecer que toda vez que entra no quarto de Eny você arruma confusão.
            Raziel sorri.
            -Você é o amigo dela não é?
            -Sim me chamo Diego.
            -Eu sou Raziel.
            -Sei quem é príncipe e vim a pedido de Enya.
            -Pode falar. Mas seja rápido preciso voltar para junto de meu pai.
            -Acalme-se. Teremos muito tempo juntos.
            -O que quer dizer com isso?

            -Simples caro príncipe. Vou com você até o seu reino e vou curar seu pai.